Sérgio Buarque de Holanda: A democracia é difícil
Sérgio Buarque de Holanda: A democracia é difícil,
entrevista concedida a João Marcos Coelho|Revista Veja, em 28 de janeiro de
1976.
A caminho dos 74 anos, que completará em julho (1976),
Sérgio Buarque de Holanda é, ao mesmo tempo, um impecável historiador e um
fascinante contador de histórias. Grande viajante, entremeia reflexões sobre o
exercício da História com finas observações do tipo: "Me diverti muito
quando estive na Grécia. Lá, os carregadores de bagagens são chamados
metaphoras, e os que esperam na fila do ônibus estão em ekstasis. É agradável,
mas também chocante, você se deparar de repente com as palavras sendo
utilizadas em seu sentido rigoroso, não é?
Seu primeiro livro, "Raízes do Brasil" (1936),
forma, junto com "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, e
"Formação do Brasil Contemporâneo", de Caio Prado Jr., o grande tripé
básico da cultura brasileira no século XX. Começou a lecionar na Universidade
do Distrito Federal, transferindo-se em 1938 para o Instituto Nacional do
Livro. Dez anos depois passou a ocupar a cadeira de História Econômica do
Brasil na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. A partir de 1956,
assumiu o posto de catedrático de História da Civilização na Universidade de
São Paulo. Pronunciou conferências e deu cursos nos Estados Unidos, França,
Itália, Suíça e Chile. Entre as universidades americanas, lecionou em Colúmbia,
Harvard, Califórnia, Indiana, Yale e na New York State University.
Desde 1960 dirige a "História Geral da Civilização
Brasileira", já em seu sétimo volume publicado: "Do Império à
República". Embora negue predileção pelo período do Segundo Reinado,
Sérgio diz que "basicamente a coleção é um trabalho de equipe, mas este
volume é apenas meu. Eu ia fazer apenas uma resenha do aspecto político do
Império, mas ela acabou virando um livro, publicado como último tomo do século
XIX. Um pouco cansado com o trabalho de coordenar uma coleção desse porte, pedi
um sucessor para a parte da República. E Bóris Fausto foi o escolhido".
Contudo, ainda este ano Sérgio pretende publicar uma nova versão de "Do
Império à República", consideravelmente ampliada.
Confortavelmente sentado em uma poltrona, numa das salas -
todas literalmente atulhadas de livros - de sua casa normanda no bairro do
Pacaembu, em São Paulo, Sérgio (ou o "pai do Chico Buarque", como
adora ser chamado) falou sobre a História. E também contou muitas outras.
JOÃO MARCOS COELHO - O que o senhor modificaria, hoje, em
seu livro "Raízes do Brasil", escrito na década de 30?
SÉRGIO BUARQUE - Muita coisa. Eu escrevi dois de seus
capítulos na Alemanha, quando lá morei, entre 1928 e 1931. A idéia básica era a
de que nunca houve democracia no Brasil, e de que necessitávamos de uma
revolução vertical, que realmente implicasse a participação das camadas
populares. Nunca uma revolução de superfície, como foram todas na História do
Brasil, mas uma que mexesse mesmo com toda a estrutura social e política vigente.
JOÃO MARCOS COELHO - E a ideologia brasileira do homem
cordial, que vem da passagem do século e o senhor de certa forma adota, ainda
valeria?
SÉRGIO BUARQUE - Critica-se muito, mas poucos entenderam o
verdadeiro sentido da expressão homem cordial. Quando falo cordial, não é no
sentido de "cordiais saudações", como Cassiano Ricardo o fez. A
cordialidade com que caracterizei o brasileiro pode ocorrer mesmo em situações
de confronto, fatos comuns em nossa história. Nesse sentido, ela tem sido incruenta.
Tem havido muita discussão, recentemente, a respeito da História do Brasil, se
ela é cruenta ou incruenta. Considero esse debate bizantino. É inegável, porém,
que a independência, a proclamação da República e mesmo as revoluções de 1930 e
1964 se fizeram sem derramamento de sangue. Portanto, a cordialidade continua
valendo para a nossa História.
JOÃO MARCOS COELHO - O que o levou a tentar explicar
globalmente o caráter nacional brasileiro?
SÉRGIO BUARQUE - Hoje, eu não me aventuraria mais a tentar
uma empreitada dessa espécie. Simplesmente porque os tempos são outros. Eu
estava muito influenciado pelo sociólogo alemão Max Weber. Aliás, foi naquela
mesma década de 30 que surgiram outras obras brasileiras cuja característica
também era a de tentar a grande síntese: "Casa Grande & Senzala",
"Formação do Brasil Contemporâneo". Há pouco tempo uma editora
francesa, a Gallimard, me propôs a tradução de "Raízes do Brasil".
Pediram-me também um ensaio, que seria publicado na edição francesa,
atualizando minhas idéias. Tentei, mas acabei desistindo. O livro está superado
e plenamente datado. Minhas preocupações eram outras. Não tem sentido
reescrever eternamente uma mesma obra.
JOÃO MARCOS COELHO - Quando o senhor afirma que no Brasil
nunca houve democracia, isso talvez signifique que, num certo sentido, as
massas populares jamais participaram do jogo político nacional?
SÉRGIO BUARQUE - Claro. No Brasil, sempre foi uma camada
miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso.
As lutas, ou mudanças, são executadas por essa elite e em benefício dela, é
óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico, mas em certos
momentos, de repente, pode irromper brutalmente.
JOÃO MARCOS COELHO - Em quais momentos esse despertar teria
ocorrido?
SÉRGIO BUARQUE - Até agora, todas as revoluções dentro da
História do Brasil foram de elites, civis ou militares, mas sempre elites. E,
quando a questão se restringe a querelas elitistas, o processo caminha como
numa briga de família: aparece um primo, um tio, ou um amigo da família com bom
relacionamento com ambas as partes capaz de contornar diplomaticamente o
confronto direto. E é exatamente no conchavo que pode surgir a figura do homem cordial.
Por isso a democracia, que nasceu aqui num mal-entendido, percorreu em nossa
História um caminho inusitado. Ou seja, foi murchando aos poucos.
JOÃO MARCOS COELHO - Como se deu esse esvaziamento?
SÉRGIO BUARQUE - Pela Constituição de 1824, somente os
escravos (porque dependiam do senhor), os religiosos em regime claustral, as
mulheres e os menores não votavam. Ela permitia o voto dos analfabetos, dos
libertos. O censo pecuniário (mínimo de renda mensal para poder votar) era de
100 mil-réis - esta quantia, só os indigentes não conseguiam obter. Era uma
Constituição relativamente democrática. Em 1846, houve uma reforma, mas só para
aumentar a renda mínima, devido à desvalorização da moeda, de 100 para 200
mil-réis. Havia duas espécies de participantes do processo eleitoral: os
votantes, que tinham o direito de escolher os eleitores; e estes, que, por sua
vez, elegiam os deputados e senadores. Os primeiros constituíam toda a massa
ativa da população, mal ou bem participando realmente do jogo político. Na
década de 70, em pleno Segundo Reinado, os partidos Liberal e Conservador se
uniram para lutar por eleições totalmente diretas. Com a passagem dos votantes,
grande maioria da população, para a condição de eleitores, entretanto, a
democracia sofreu um golpe, pois a renda mínima foi muito aumentada (400
mil-réis, sujeitos a comprovação), que por sua vez era discutível. Isso alijou
os antigos votantes e restringiu o número de eleitores de 1,5 milhão para pouco
menos de 300 000. Tanto é que um estudo, coordenado por Santana Nery, publicado
em Paris, em 1889, afirmava: "O Brasil é o país que tem menor número de
votantes: apenas 1,5% da população tem esse direito". Computando-se as
habituais abstenções, não se chegava a 1 %. Somente em 1930, quando a massa
popular votava, subiu-se para 5%. Então, veio o freio da revolução, que sustou
o processo eleitoral por algum tempo.
JOÃO MARCOS COELHO - Seria correto afirmar que no Brasil
sempre se confundiram as palavras democracia e liberalismo?
SÉRGIO BUARQUE - Evidente. O liberalismo pode perfeitamente
sobreviver sem a prática da democracia, e isso é o que sempre aconteceu no
Brasil. O substantivo liberal surgiu nas Cortes de Madrid, entendido como
oposto ao servil, ou iliberal. Dicionarizado em 1803, no Brasil ainda significava
pessoa generosa, dadivosa. Em toda a História do Brasil, porém, a palavra é
freqüentemente usada como sinônimo de concessão por parte das elites
dominantes. O próprio dom Pedro I, quando dissolveu a Assembléia Constituinte
de 1823, afirmou que a Constituição que outorgaria era duplicadamente mais
liberal do que a elaborada pelos constituintes. "Quero uma Constituição
para o povo, não pelo povo", chegou a dizer, deixando claro que apenas com
sua permissão se podia praticar a liberdade. Isso pairou idealmente em todo o
Segundo Reinado, embora jamais tenha existido na prática.
JOÃO MARCOS COELHO - Quer dizer que a democracia sobreviveu
no Brasil apenas quando era bom o humor das elites dominantes?
SÉRGIO BUARQUE - Sim. E alguns políticos mais lúcidos
perceberam isso já no século passado. Nabuco de Araújo, em 1869, dizia que nós
tínhamos liberdade, ou liberalismo, mas só nas capitais. No interior, quem
resolvia era o capanga, o prefeito ou o chefe de polícia. Em um discurso
particularmente inflamado, chegou a afirmar que "a liberdade existe para
nós, homens de gravata lavada, e não para o povo". Na época, usava-se uma
gravata de seda ou linho, com colarinho alto, com um nó triplo bastante
saliente, colorindo o peito e forçando a pessoa a uma posição sempre altiva. E
a cor, obrigatoriamente branca. Com o calor do Rio de Janeiro e sua situação
urbanística (para chegar ao Senado, na antiga rua do Areal, era preciso passar
pelo Campo de Santana, onde haviam capim, brejos e burro soltos), o consumo de
gravatas diárias chegava a cinco ou seis. E naturalmente era preciso ter
dinheiro para manter esse enorme estoque. Outro político contemporâneo de
Nabuco de Araújo, Teófilo Otôni, cognominado o "Tribuno Liberal",
numa circular para seus eleitores mineiros, usou expressão semelhante: "O
que eu quero é a democracia de classe média, a democracia de gravata
lavada".
JOÃO MARCOS COELHO - Ao que parece, eles só pensavam numa
democracia higienicamente asseptizada.
SÉRGIO BUARQUE - Na verdade, a palavra democracia era mal
vista pelos liberais brasileiros no começo do Império. Talvez devido a uma
identificação com os ideais de Robespierre, o que, os levava a associar
democracia com anarquia. Quando ganhou status, em meados do Império, a palavra
já tinha perdido seu sentido original. E passou a significar liberalismo.
Aliás, outro bom exemplo é o de frei Caneca, que em um de seus escritos
afirmou: "É impossível viver com esta gentalha composta de mulatos e
mestiços", deixando entrever um nítido desprezo pelas classes populares.
JOÃO MARCOS COELHO - E a partir da República? Continuou o
processo de esvaziamento da democracia?
SÉRGIO BUARQUE - Sim. O período republicano se iniciou entre
nós com uma vitória de Rui Barbosa: o chamado censo literário, com que,
finalmente, se barrou o acesso dos analfabetos ao voto. Um dos argumentos
constantes do grupo vitorioso era o de que uma parte da população ainda não
estava preparada para participar do jogo democrático. Era preciso esperar o
progresso, que naturalmente elevaria a massa à condição de 'alfabetizada e,
portanto, apta a votar. Esta, no fundo, é uma idéia reacionária: não é preciso
lutar, o progresso há de vir, independentemente de nossa vontade. Mais de
oitenta anos se passaram e nem com o Mobral o problema foi resolvido. Aliás,
José Bonifácio, "o Moço", que adotou posição contrária à de Rui
Barbosa (um seu ex-aluno a quem muito respeitava) usava argumentos bastante
convincentes: "Por que os analfabetos não podem votar? Amanhã vão dizer
que os surdos também não podem, depois os mudos, e depois ainda só votarão as
pessoas formadas em universidades: depois os epilépticos, conhecidos ou
desconhecidos". Em seguida, dirigiu-se ao governo: "Eu sou a
Democracia... fostes para as alturas e eu fiquei. Não vos acuso.., neste país
há lugar para todos. Pois bem, deixai também lugar para mim".
JOÃO MARCOS COELHO - Como encarar a história brasileira, de
1930 em diante?
SÉRGIO BUARQUE - Certamente como uma nova versão,
modernizada, da democracia de gravata lavada. Falar em democracia, hoje, todo o
mundo fala. Inclusive os países comunistas. Até durante o nazismo mais de 90%
da população alemã votava. Claro que pressionada e num jogo de cartas marcadas.
Mas votava. A fachada da democracia sempre está presente, inclusive nos regimes
autoritários e totalitários.
JOÃO MARCOS COELHO - Parecem coexistir hoje dois grandes
grupos de historiadores preocupados com o Brasil. De um lado, os brasileiros,
que, numa posição extremamente critica, procuram, grosso modo, reconstituir o
que chamam de história da dependência. E, de outro, os chamados brazilianists,
estrangeiros que têm dado preferência a certos temas da nossa História, como
por exemplo, a escravidão, o Estado Novo e os governos da Revolução de 1964.
Eles se completam, de alguma maneira?
SÉRGIO BUARQUE - Primeiro, é preciso esclarecer que o
interesse pelo Brasil não é novo. Na década de 40, quando o presidente
Roosevelt pôs em prática o que chamou de política de boa vizinhança, houve
muitas teses sobre o Brasil. Até eu fui convidado a visitar os Estados Unidos
para participar de um congresso sobre estudos brasileiros, durante três meses.
Em 1965, em nova ida aos EUA para dar cursos, vivi como um nababo: me hospedei
no Waldorf Astoria, um carro do ano com motorista à disposição, tudo por conta
do governo americano. Agora, porém, essa nova vaga parece ter raízes mais
profundas e duradouras. Os historiadores Richard Morse, Thomas Skidmore (autor
de "De Getúlio a Castello"), Stanley Stein e Richard Graham me
parecem os melhores. A explicação para a escolha de determinados temas é
relativamente fácil: a escravidão, por exemplo, é um dos temas americanos
permanentes. Quando ouviram comentários de que tinha havido no Brasil o bom
senhor, e escravos unidos - graças a um livro de Frank Tannembaum, "Slave
and Citizen", e a edição inglesa de "Casa Grande & Senzala",
de Gilberto Freyre -, rapidamente o assunto virou moda. Já quanto aos temas
contemporâneos, de Getúlio para cá, tive uma boa resposta quando, na
Universidade de Berkeley, Califórnia, fiz esta pergunta a um brazilianist. Sua
resposta: "Cuba". A posição do Brasil como país estratégico, política
e militarmente, tem se reforçado cada vez mais nos últimos tempos e por isso é
preciso, do ponto de vista americano, conhecê-lo muito bem.
JOÃO MARCOS COELHO - Em que consistiu a contribuição dos
brazilianists para a historiografia brasileira?
SÉRGIO BUARQUE - Existe um preconceito com relação aos
historiadores americanos de que são ingênuos e pouco teóricos. Isso não é muito
correto mas tem um fundo de verdade. Um amigo me contou que um dia encontrou um
rapaz numa biblioteca americana preparando uma tese sobre o Renascimento.
Perguntou-lhe se ele já tinha lido o celebérrimo livro de Jacob Burckhardt a
respeito e obteve esta resposta: "Ainda não cheguei lá. Estou nos autores
cujos nomes começam por A". Isso ilustra a capacidade de coleta de
material deles, espantosa em seu rigor e meticulosidade.
JOÃO MARCOS COELHO - Uma das críticas que se fazem, não
somente ao historiador mas ao intelectual brasileiro em geral, é a de que ele
tem a obsessão de ultrapassar rapidamente a realidade empírica e partir para a
ensaística, ou interpretação teórica, sem bases sólidas.
SÉRGIO BUARQUE - Concordo integralmente, e é por isso que eu
jamais escreveria de novo "Raízes do Brasil". Principalmente porque o
livro ficou no nível do ensaio. Não sou contra a ensaística ou a interpretação,
mesmo hoje. Mas a pesquisa deve ser rigorosa e exaustiva. Se não, o resultado
são apenas elucubrações, às vezes brilhantes, mas desvinculadas da realidade.
JOÃO MARCOS COELHO - De qualquer modo, não há jeito de
escapar da ideologia?
SÉRGIO BUARQUE - Não. E é engraçado observar como diversas
vezes, na História do Brasil, pessoas mascararam suas verdadeiras posições em
função do momento político. Quando Dom Pedro I abdicou, devido a inúmeras
pressões, no período imediatamente seguinte - a Regência - os grupos dirigentes
permaneceram unidos, porque tinham pavor da volta dele ao poder. Somente depois
de 1834, quando dom Pedro morreu, é que se revelaram as verdadeiras posições.
Tanto que os conservadores fundaram seu partido em 1837, opondo-se aos
moderados. O próprio Gilberto Freyre, quando surgiu, era tido como altamente
revolucionário apenas porque usava palavrão, falava da vida sexual e era contra
os jesuítas e a maçonaria. Grande parte do clero se voltou, decididamente,
contra ele e contribuiu para forjar dele uma falsa imagem revolucionária.
JOÃO MARCOS COELHO - Os historiadores brasileiros têm
tentado detectar as ideologias que determinam os fatos de nossa história e
fazer uma revisão de tudo o que já foi dito?
SÉRGIO BUARQUE - A revisão da História não tem que ser
absolutamente um momento privilegiado. Ela tem que ser feita a todo instante. A
história não é prisão ao passado. Ela é mudança, é movimento, é transformação.
E por isso estamos irremediavelmente presos a ideologias que na maioria das
vezes são exóticas, pois não nasceram aqui. A atual geração de historiadores
considera que a ideologia representa um pensamento falso. Mas eu pergunto: será
possível assumir uma ideia que seja válida? Cada um de nós tem, no fundo, uma
certa ideologia, um certo conceito de tempo. Para transcender isso, somente um
gênio. E não devemos ficar eternamente de braços cruzados à espera desse ser
excepcional, devorador de ideologias, que assumiria o ponto de vista da
eternidade.
JOÃO MARCOS COELHO - Então, fazer história é reescrevê-la
perpetuamente?
SÉRGIO BUARQUE - Eu diria, junto com Benedetto Croce, que
toda história é história contemporânea. Ou seja, nós sempre privilegiamos um
aspecto em função de nossa realidade. Por exemplo, quando Bismarck governava
todo-poderoso a Alemanha, a Escola Prussiana de História, ao estudar a Grécia
antiga, privilegiou muito as qualidades de Alexandre Magno, o homem forte que
dominou toda aquela região por um bom tempo. Tudo isso em função de Bismarck.
Nós contamos a história a partir da vivência cotidiana de nossos problemas, de
nossa realidade. Os historiadores sempre foram e serão presa fácil de seu
tempo.
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Fonte: Sérgio Buarque de Holanda: A democracia é difícil. [Entrevista
concedida a João Marcos Coelho]. Publicada originalmente na Revista Veja, em 28
de janeiro de 1976.
Texto e imagem reproduzidos do site: elfikurten.com.br
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