Foto: André Moreira/Equipe JC
Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 04/08/2017
Vício em internet é comparado a dependência química
Quem passa por esse problema pode sofrer crise de
abstinência
Por: Laís de Melo/Equipe JC.
Apesar de a internet ainda ser um meio de comunicação
descentralizado, onde mais da metade da população mundial ainda não tem acesso,
cada vez mais as pessoas estão vivendo conectadas, online. Assim como existe o
lado positivo para isso e longas discussões e pesquisas a respeito, o excesso e
a falta de limite dos usuários tem se tornado um problema que também vem sendo
debatido. Estudos realizados em uma Universidade de Chicago, e no Brasil, pelo
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo
(IPq-HCUSP), no ano de 2012, já alertavam para o aumento da dependência às
redes sociais.
O vício por internet e redes sociais, pode ser tão grave que
pode ser comparado ao de um dependente químico, segundo explicações da
psicóloga Petruska Menezes. “Se compara às dependências químicas porque a
ausência pode causar crises de abstinência assim como acontece com o uso de
substâncias”, afirmou a psicóloga. Essas crises, segundo Petruska, podem também
serem parecidas com os dependentes de substâncias químicas como álcool, cigarro
e drogas.
“A dependência se caracteriza pela dificuldade e sofrimento
em não manter os hábitos normais da vida, trazendo inclusive desconfortos de
ordem psicossomáticas. Podem ocorrer alterações do ciclo sono-vigília, mudança
de humor, principalmente mau humor, sudorese, ansiedade, palpitações,
sentimentos de opressão, isolamento social, na vida real, fora da internet.
Esses são alguns dos sintomas”, conta a especialista.
A jornalista e doutoranda em Sociologia, Juliana Almeida,
discute e analisa sobre vários campos de conhecimento sobre comportamento
social online, e reitera que as redes sociais existem há muito tempo, porém,
eram muito mais restritas antes do avanço da internet. Mas, o que era para ser
algo positivo, em alguns casos, pode realmente se tornar um problema de grande
proporção.
“As redes sociais possibilitaram muito mais do que você se
relacionar com outras pessoas. Elas possibilitaram você reunir em um só espaço
várias redes que você tinha de forma separada. No seu perfil você tem amigos,
conhecidos, familiares, pessoas que você se relaciona profissionalmente. Isso
gera uma nova forma de relacionamento. É uma nova forma de você lidar com a
visibilidade. O seu perfil numa rede social é uma vitrine, mas, é também algo
extremamente perigoso se você não utilizar com cuidado”, disse.
Os viciados virtuais, como são denominados por estudiosos,
segundo a doutoranda Juliana, existem sim. Inclusive, existem também clínicas
especializadas para tratar essas pessoas. “São pessoas que entram em crise de
ansiedade quando o celular descarrega. Já assisti uma reportagem muito
interessante sobre isso na Globo News, em que as pessoas andam com três, quatro
celulares para não correrem o risco de ficarem desconectadas. Isso causa crise
de ansiedade, Síndrome de Pânico. São sintomas dessa vida que nós temos e que é
muito perigoso, de nós não desconectamos mais. Não temos tempo de ócio
necessário, de contemplação, de pausar um pouco a vida, por causa da internet.
Se você não está fazendo nada, você está com o celular na mão de alguma forma
se conectando”, ressaltou.
Ela explica ainda que a internet e as redes sociais não se
tratam mais de um “mundo virtual”, como foi muito apontada. Não existem mais
estudos sobre se a internet afasta ou aproxima as pessoas. Está claro que se
trata de algo real, porém, em outro nível de realidade. “A partir do momento
que a pessoa está navegando na rede, ela está conectada e interagindo de alguma
forma. Hoje as discussões são muito maiores, e tratam justamente da questão do
vício. Das pessoas não conseguirem ter uma vida plena além da rede social, que
acabou virando uma vitrine. O narcisismo social acaba se criando de uma forma
muito perigosa. Porque se você tem uma vitrine, você pode expor sua vida”,
argumenta.
A interação social por meio das redes pode passar a ser um
problema também quando as pessoas não suportam viver a sua vida real, segundo a
psicóloga Petruska. “Com seu corpo, seu jeito, sua maneira de ser e passa a
viver no mundo virtual tendo-o como algo vital e central em sua vida. Então
precisa de aceitação do outro via likes ou compartilhamentos e, expor-se
narcisicamente para se sentir temporariamente bem. Ou seja, é o excesso, o
abuso e a importância que as redes sociais ocupam na vida de cada um que gera o
problema”, salienta.
É importante que todos os usuários tenham o equilíbrio entre
as diversas atividades do dia a dia, para saber até onde é bom ou ruim utilizar
as redes sociais. “Deixar de fazer outras atividades como comer, dormir,
atividades de lazer, sair com amigos, visitar a família, estudar ou trabalhar
para ficar nas redes sociais é um prejuízo e uma delimitação muito restrita da
vida”, conclui a psicóloga.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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