Crédito:Arquivo pessoal
Publicado originalmente no site do Portal Imprensa, em 26/04/2017
Liberdade de imprensa é ser plural, defende o acadêmico
Fernando Schuler
Marília Marasciulo (em colaboração)
Filho de um professor de História e Teologia, o gaúcho
Fernando Schuler, um dos ganhadores do Troféu Liberdade de Imprensa, teve uma
formação fortemente ligada aos livros e desde cedo liberdade de expressão e
democracia foram focos de seus estudos. Inspirado por autores como o italiano
Norberto Bobbio e o francês Alexis de Tocqueville, conhecido pela obra "A
Democracia na América", Schuler sempre se questionou sobre como construir
uma civilização capaz de preservar o pluralismo de ideias. A resposta, ao que
tudo indica, aponta para a liberdade de expressão como peça fundamental. “Uma
democracia terá seus descontentes, mas esse é o custo da liberdade, ela
incomoda”, diz. “A vantagem é que aqueles que se sentem prejudicados podem
expressar sua visão.”
Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências Políticas pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Schuler atualmente é titular
da Cátedra Insper e Palavra Aberta, voltada à reflexão sobre a liberdade de
expressão e de imprensa. Na visão dele, hoje um dos maiores desafios,
ironicamente, está no excesso de informação circulando. “Por um lado, isso é
muito positivo, pois as pessoas se sentem cada vez mais à vontade e livres para
se expressar”, explica. “No entanto, isso provoca uma explosão de pós-verdade e
abre espaço para uma permanente instabilidade e intolerância.” Afinal,
informação é poder e precisa ser tratada com responsabilidade.
É aí, opina Schuler, que entra a mídia profissional. Apesar
dos desafios principalmente econômicos que o setor tem enfrentado nos últimos
anos, Schuler enxerga o jornalismo brasileiro com muito otimismo. “O país tem
uma mídia pluralista, é uma das nossas instituições e há grande diversidade de
opiniões”, diz. Em tempos nos quais qualquer pessoa pode se tornar emissora de
informação, a imprensa tradicional adquire maior relevância, pois passa a
desempenhar o importante papel de filtrar e fazer a curadoria do conteúdo.
Para isso, no entanto, é essencial preservar um pluralismo
complexo, partindo de hipóteses que podem ser derrubadas e mantendo sempre uma
neutralidade no ponto de partida de investigações. “Não se pode cair em maniqueísmo
e acreditar que tudo tem só dois lados”, opina. A mídia tradicional não pode
competir com a avalanche de informação que circula a todo segundo nas redes
sociais, mas pode, e deve, se consolidar como uma fonte com credibilidade e
qualidade — e ter liberdade para fazer isso sem ceder a pressões do mundo
online ou interesses de terceiros.
Texto e imagem reproduzidos do site: portalimprensa.com.br
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