segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Liberdade de imprensa é ser plural, defende o acadêmico Fernando Schuler

Crédito:Arquivo pessoal

Publicado originalmente no site do Portal Imprensa, em 26/04/2017

Liberdade de imprensa é ser plural, defende o acadêmico Fernando Schuler

Marília Marasciulo (em colaboração)

Filho de um professor de História e Teologia, o gaúcho Fernando Schuler, um dos ganhadores do Troféu Liberdade de Imprensa, teve uma formação fortemente ligada aos livros e desde cedo liberdade de expressão e democracia foram focos de seus estudos. Inspirado por autores como o italiano Norberto Bobbio e o francês Alexis de Tocqueville, conhecido pela obra "A Democracia na América", Schuler sempre se questionou sobre como construir uma civilização capaz de preservar o pluralismo de ideias. A resposta, ao que tudo indica, aponta para a liberdade de expressão como peça fundamental. “Uma democracia terá seus descontentes, mas esse é o custo da liberdade, ela incomoda”, diz. “A vantagem é que aqueles que se sentem prejudicados podem expressar sua visão.”

Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências Políticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Schuler atualmente é titular da Cátedra Insper e Palavra Aberta, voltada à reflexão sobre a liberdade de expressão e de imprensa. Na visão dele, hoje um dos maiores desafios, ironicamente, está no excesso de informação circulando. “Por um lado, isso é muito positivo, pois as pessoas se sentem cada vez mais à vontade e livres para se expressar”, explica. “No entanto, isso provoca uma explosão de pós-verdade e abre espaço para uma permanente instabilidade e intolerância.” Afinal, informação é poder e precisa ser tratada com responsabilidade.

É aí, opina Schuler, que entra a mídia profissional. Apesar dos desafios principalmente econômicos que o setor tem enfrentado nos últimos anos, Schuler enxerga o jornalismo brasileiro com muito otimismo. “O país tem uma mídia pluralista, é uma das nossas instituições e há grande diversidade de opiniões”, diz. Em tempos nos quais qualquer pessoa pode se tornar emissora de informação, a imprensa tradicional adquire maior relevância, pois passa a desempenhar o importante papel de filtrar e fazer a curadoria do conteúdo.

Para isso, no entanto, é essencial preservar um pluralismo complexo, partindo de hipóteses que podem ser derrubadas e mantendo sempre uma neutralidade no ponto de partida de investigações. “Não se pode cair em maniqueísmo e acreditar que tudo tem só dois lados”, opina. A mídia tradicional não pode competir com a avalanche de informação que circula a todo segundo nas redes sociais, mas pode, e deve, se consolidar como uma fonte com credibilidade e qualidade — e ter liberdade para fazer isso sem ceder a pressões do mundo online ou interesses de terceiros.

Texto e imagem reproduzidos do site: portalimprensa.com.br

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