Vitral sexo.
Publicado originalmente no site huffpostbrasil.com, em 06/09/2015.
Confissões de um garoto de programa: 'Muita gente me
contrata para desabafar' (+18)
Rafael Nardini Especial para HuffPost Brasil
"Meu cliente mais comum tem 35 anos e um casamento
padrão. E ele se diz hétero para a sociedade."
O depoimento a seguir foi editado a partir de conversas com
Alan Souza, 33. O garoto de programa atende em Salvador (BA) e não vê problema
algum em falar sobre seu trabalho. Também aceita convites para viagens com
casais, homens ou mulheres.
Acredito que muitos me contratam pela curiosidade. Porque
hoje temos acesso a tudo. Na internet se encontra tudo que quiser. Então esses
homens me procuram mais para quebrar uma vontade incubada que vem de muito
tempo atrás.
Há duas semanas, um homem de 52 anos, que não tinha relações
sexuais há 10 anos com a mulher dele, me ligou. Fomos num barzinho, batemos um
papo e partimos para o motel. Ele realmente já não tinha mais prática no sexo,
mas queria voltar a ter tesão. Também nunca havia feito sexo com um homem
antes.
Mas a coisa varia um pouco. Muitos casais me contratam para
passar os finais de semana em casas de praia. Nesses casos, de maneira geral, o
contato é feito pelo homem, que deseja me ver fazendo sexo com a esposa. Ele
quer ser voyeur. Gosta de olhar e tem o seu tesão em ver a mulher transando com
outro cara. Mas tem muito casal que participa. Já teve caso de um ficar com o
cara e a mulher querer interferir...
Quanto vale o show?
Sexo é uma coisa muito psicológica. Tem um trabalho de
atenção. Muita, mas muita gente mesmo me contrata para desabafar e conversar
sobre situações do dia a dia. Falam de um problema em casa, do trabalho que não
rolou, da relação conjugal... O atendimento tem todo esse lado do trabalho
psicológico.
Nunca tomei Viagra. Procuro passar a noite em casa, ler e
descansar. Me alimento bem, me cuido, faço artes marciais, corro três vezes por
semana na orla de Salvador. E na hora do sexo, tanto com homem quanto com
mulher, vai funcionar do mesmo jeito.
Mas meu primeiro programa, por exemplo, foi muito ruim.
Trabalhava numa casa de massagem em Rio Vermelho. Era caseiro lá. No final do
expediente o dono da casa recebeu um casal de amigos que queria fazer o
programa. Mas foi muito ruim porque não tinha experiência nenhuma. Mas vi que
dava para ganhar um dinheirinho. Nessa época recebia R$ 50 por semana como
caseiro. Não tinha onde morar, não tinha mais grana e tinha acabado de me
separar. Estava abalado e cheguei a morar na rua.
Os piores programas, aliás, acontecem quando o casal me
contrata e, na hora H, o cara sente ciúme. Ou então a mulher nem quer nada e o
cara fica insistindo... Acontece também de a mulher se soltar mais pelo toque,
pela vontade de trepar e o cara fica puto.
A prioridade são os clientes fixos porque eles me mantêm.
Novos clientes pagam R$ 350, R$ 300 pela hora. Menos do que isso, não. Quando é
viagem, o valor é outro.
Qual é a minha
Desde os 12 anos, quando brincava com os meus primos, já
tinha curiosidade. Minha primeira relação homossexual foi nessa fase. Já sabia
que era bissexual.
Tenho duas filhas que moram no interior da Bahia e vou
sempre buscá-las para passarem as férias comigo. Elas tem 15 e 17 anos. Ainda
não falei com elas sobre o meu trabalho, mas está perto. Mas elas têm a cabeça
aberta. É tranquilo.
Procuro ter uma rotina. Mas não tenho muito cronograma. Pela
manhã corro na orla e tiro duas horas para treinar música. Malho quatro vezes
na academia por semana. Durante a noite procuro não sair. Só se for para
atender. Saio e volto. Sou muito caseiro mesmo. Nos finais de semana, que tem
uma clientela que gosta de puxar mais um pouquinho, procuro dormir à tarde.
Não uso maconha. Não uso cocaína. Mas as drogas são muito
presentes na prostituição. Principalmente aos finais de semana. Esse
estereótipo de que o garoto de programa usa droga para trabalhar é o maior caô.
Ele vai ganhar de outra forma. Por exemplo, você acerta um cachê com um cara
para um período de duas horas. Mas o cara que está cheirando não quer que você
vá embora. Então eles colocam mais dinheiro para você ficar até ele consumir
toda a droga com isso. Então você acaba ganhando mais quando o cliente está
usando cocaína. Mas não tenho nenhum preconceito com drogas.
Gosto de quebrar tabus. A prostituição está em todo lugar.
Em casa, na igreja, na faculdade. Se você sai com uma pessoa e fica uma noite
só por festa é prostituição. Tem muitos casais que moram 30 anos e a mulher se
prostitui porque não gosta do cara.
Não é nada fácil
A legalização melhoria a profissão, sim. Se legalizar os
prostíbulos, vai evitar que os menores entrem. O que não é legalizado funciona
no vácuo da propina.
Seria importante porque tem muita garota de programa que
chega 23h na casa e só sai depois das 5h. Se sair antes, recebe multa. E tem
muitas garotas que trabalham 12 horas e até 13 horas. É uma profissão onde as
pessoas são muito exploradas. Com a legalização elas teriam seus direitos
assegurados.
Mas não indico minha vida para ninguém.
Para entrar na prostituição precisa ter cabeça. É uma área
muito perigosa. Não aconselho ninguém entrar, não. Você tem muita amizade
restrita e se não tem uma personalidade bacana, acaba consumindo droga e acaba
se afundando e perde o foco. Mas como já corri perigo a vida toda e estou
acostumado, tenho a cabeça no lugar. Mas aconselho a procurar um caminho que
vai trazer resultado sem tanta dor.
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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