sábado, 18 de novembro de 2017

Confissões de um garoto de programa... (+18)

Vitral sexo.

Publicado originalmente no site huffpostbrasil.com, em 06/09/2015.

Confissões de um garoto de programa: 'Muita gente me contrata para desabafar' (+18)

Rafael Nardini Especial para HuffPost Brasil

"Meu cliente mais comum tem 35 anos e um casamento padrão. E ele se diz hétero para a sociedade."

O depoimento a seguir foi editado a partir de conversas com Alan Souza, 33. O garoto de programa atende em Salvador (BA) e não vê problema algum em falar sobre seu trabalho. Também aceita convites para viagens com casais, homens ou mulheres.

Acredito que muitos me contratam pela curiosidade. Porque hoje temos acesso a tudo. Na internet se encontra tudo que quiser. Então esses homens me procuram mais para quebrar uma vontade incubada que vem de muito tempo atrás.

Há duas semanas, um homem de 52 anos, que não tinha relações sexuais há 10 anos com a mulher dele, me ligou. Fomos num barzinho, batemos um papo e partimos para o motel. Ele realmente já não tinha mais prática no sexo, mas queria voltar a ter tesão. Também nunca havia feito sexo com um homem antes.

Mas a coisa varia um pouco. Muitos casais me contratam para passar os finais de semana em casas de praia. Nesses casos, de maneira geral, o contato é feito pelo homem, que deseja me ver fazendo sexo com a esposa. Ele quer ser voyeur. Gosta de olhar e tem o seu tesão em ver a mulher transando com outro cara. Mas tem muito casal que participa. Já teve caso de um ficar com o cara e a mulher querer interferir...

Quanto vale o show?

Sexo é uma coisa muito psicológica. Tem um trabalho de atenção. Muita, mas muita gente mesmo me contrata para desabafar e conversar sobre situações do dia a dia. Falam de um problema em casa, do trabalho que não rolou, da relação conjugal... O atendimento tem todo esse lado do trabalho psicológico.

Nunca tomei Viagra. Procuro passar a noite em casa, ler e descansar. Me alimento bem, me cuido, faço artes marciais, corro três vezes por semana na orla de Salvador. E na hora do sexo, tanto com homem quanto com mulher, vai funcionar do mesmo jeito.

Mas meu primeiro programa, por exemplo, foi muito ruim. Trabalhava numa casa de massagem em Rio Vermelho. Era caseiro lá. No final do expediente o dono da casa recebeu um casal de amigos que queria fazer o programa. Mas foi muito ruim porque não tinha experiência nenhuma. Mas vi que dava para ganhar um dinheirinho. Nessa época recebia R$ 50 por semana como caseiro. Não tinha onde morar, não tinha mais grana e tinha acabado de me separar. Estava abalado e cheguei a morar na rua.

Os piores programas, aliás, acontecem quando o casal me contrata e, na hora H, o cara sente ciúme. Ou então a mulher nem quer nada e o cara fica insistindo... Acontece também de a mulher se soltar mais pelo toque, pela vontade de trepar e o cara fica puto.

A prioridade são os clientes fixos porque eles me mantêm. Novos clientes pagam R$ 350, R$ 300 pela hora. Menos do que isso, não. Quando é viagem, o valor é outro.

Qual é a minha

Desde os 12 anos, quando brincava com os meus primos, já tinha curiosidade. Minha primeira relação homossexual foi nessa fase. Já sabia que era bissexual.

Tenho duas filhas que moram no interior da Bahia e vou sempre buscá-las para passarem as férias comigo. Elas tem 15 e 17 anos. Ainda não falei com elas sobre o meu trabalho, mas está perto. Mas elas têm a cabeça aberta. É tranquilo.

Procuro ter uma rotina. Mas não tenho muito cronograma. Pela manhã corro na orla e tiro duas horas para treinar música. Malho quatro vezes na academia por semana. Durante a noite procuro não sair. Só se for para atender. Saio e volto. Sou muito caseiro mesmo. Nos finais de semana, que tem uma clientela que gosta de puxar mais um pouquinho, procuro dormir à tarde.

Não uso maconha. Não uso cocaína. Mas as drogas são muito presentes na prostituição. Principalmente aos finais de semana. Esse estereótipo de que o garoto de programa usa droga para trabalhar é o maior caô. Ele vai ganhar de outra forma. Por exemplo, você acerta um cachê com um cara para um período de duas horas. Mas o cara que está cheirando não quer que você vá embora. Então eles colocam mais dinheiro para você ficar até ele consumir toda a droga com isso. Então você acaba ganhando mais quando o cliente está usando cocaína. Mas não tenho nenhum preconceito com drogas.

Gosto de quebrar tabus. A prostituição está em todo lugar. Em casa, na igreja, na faculdade. Se você sai com uma pessoa e fica uma noite só por festa é prostituição. Tem muitos casais que moram 30 anos e a mulher se prostitui porque não gosta do cara.

Não é nada fácil

A legalização melhoria a profissão, sim. Se legalizar os prostíbulos, vai evitar que os menores entrem. O que não é legalizado funciona no vácuo da propina.

Seria importante porque tem muita garota de programa que chega 23h na casa e só sai depois das 5h. Se sair antes, recebe multa. E tem muitas garotas que trabalham 12 horas e até 13 horas. É uma profissão onde as pessoas são muito exploradas. Com a legalização elas teriam seus direitos assegurados.

Mas não indico minha vida para ninguém.

Para entrar na prostituição precisa ter cabeça. É uma área muito perigosa. Não aconselho ninguém entrar, não. Você tem muita amizade restrita e se não tem uma personalidade bacana, acaba consumindo droga e acaba se afundando e perde o foco. Mas como já corri perigo a vida toda e estou acostumado, tenho a cabeça no lugar. Mas aconselho a procurar um caminho que vai trazer resultado sem tanta dor.

Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com

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