Foto: Julia Amaral/CLAUDIA.
Publicado originalmente no site da revista Claudia, em 25 out 2017.
Maria Clara Spinelli fala sobre desafios de ser uma mulher
trans
Atriz contou a CLAUDIA sua luta para ser aceita pela família
e pela sociedade
Por Da Redação
Seja quem for a mulher que cada uma escolher ser, CLAUDIA
está pronta para dividir esse caminho com elas. A gente quer estar com você,
leitora, nesta trilha pela igualdade de direitos e oportunidades. Nenhuma de
nós está mais sozinha. E, juntas, somos muito mais fortes e chegaremos muito
mais longe.
Nós somos as mulheres que não mais esperam pela bênção da
sociedade para reivindicar o que é nosso. E nós sabemos que, não importa qual
seja nosso desejo, não importa qual seja nossa escolha, nós temos direito.
Inspire-se na história de Maria Clara Spinelli, atriz de São
Paulo.
“Ainda fico emocionada ao lembrar da primeira vez em que
minha mãe me chamou de Maria Clara. Foi como me dar à luz pela segunda vez.
Gosto de falar que nasci em transição. Sempre soube quem eu era e fui muito
transparente. Nunca fingi ser homem. Então, quando comecei o processo, conforme
fui explicando, as pessoas mais próximas encararam minha escolha com
naturalidade.
Claro que houve resistência, mas hoje vejo que era medo de
eu sofrer física e emocionalmente. Eu não tinha outra opção. Nasci mulher presa
a um corpo que não era considerado feminino. E a única maneira de existir
plenamente, de ser, era passar pela transição. Se não tivesse direito à minha
identidade, não poderia ser cidadã, filha, amiga, esposa e, quem sabe um dia,
mãe.
Muitas vezes, esse caminho foi absolutamente solitário, mas
o amor-próprio me fez continuar. Dali eu tirava força para os momentos mais
difíceis. Aprendi que ninguém sabe o que é melhor para nós, além da gente. Aos
outros cabe tentar compreender, aceitar e amar a pessoa querida em fase de
transição.
Vivemos um momento benéfico para homens e mulheres
transexuais, pois o assunto entrou em pauta. Apesar de sempre ter existido na
natureza, o tema era tabu na nossa sociedade. Precisamos aproveitar esta fase
para começar um novo diálogo com a comunidade, explicar, tirar dúvidas. E
também para nos unirmos, as minorias, contra esse conservadorismo forte, que
faz resistência à evolução.
Já sofri muito preconceito, mas agora ele se apresenta de
forma velada. Não é bom atacar pessoas que têm visibilidade. Porém, continuo
perdendo oportunidades, encarando situações em que não sou bem-vinda. Quando
falam ‘admiro pessoas como você’, me diferenciam, me excluem do todo. Não é um
elogio, apesar de muitos acharem que sim.
Foi por isso que aprendi a me colocar, apresentar meu ponto
de vista. Não podemos ficar caladas. Quando alguém contar piadas sexistas,
interrompa, não ria só para agradar. Nunca pergunte o nome anterior de
transexuais. Era uma identidade com a qual ele ou ela não se reconheciam, e não
vai acrescentar nada. E, acima de tudo, não pergunte se uma pessoa é operada.
Dessa maneira, você condiciona gênero a uma genitália. E desqualifica quem não
passou pelo processo, sendo essa uma escolha individual.
Eu pretendo me tornar uma referência para a geração que está
vindo. Quando eu era mais nova, havia poucas pessoas em quem me inspirar. Esse
assunto não era tratado abertamente. Então tive que trilhar um caminho próprio.
Mas quero honrar essa luta de anos, conquistar mais espaço, continuar
construindo”.
Texto e imagem reproduzidos do site: claudia.abril.com.br
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